MÚLTIPLAS ORALIDADES

Perspectiva dicotômica

  Segundo Marcuschi (2001) a primeira das tendências de tratamento da relação entre fala e escrita, e a de maior tradição entre os linguistas, é a que se “dedica a análise das relações entre as duas modalidades de uso da língua (fala versus escrita) e percebe sobretudo as diferenças na perspectiva da dicotomia” (pág. 27).

   No caso das dicotomias estritas, trata-se de uma análise que se volta para o código e permanece na imanência do fato linguístico. Em sua forma mais rigorosa e restritiva, essa perspectiva, tal como vista pelos gramáticos deu origem ao prescritivismo de uma única norma linguística tida como padrão e que está apresentada na denominada norma culta. “É dela que conhecemos as dicotomias que dividem a língua falada e a língua escrita em dois blocos distintos, atribuindo-lhes propriedades típicas” (MARCUSCHI, 2001, pág. 27). Tais como as que se podem observar no quadro abaixo:

Quadro – Dicotomias estritas (Marcuschi, 2001)

  As dicotomias são fruto de uma observação fundada na natureza das condições empíricas de uso da língua, e não de características dos textos produzidos. Não há nessa perspectiva nenhuma preocupação com os usos discursivos nem com a produção textual, dessa forma surgem visões distorcidas do próprio fenômeno textual. Ela ainda oferece um modelo muito difundido nos manuais escolares, que pode ser caracterizado como a visão imanentista que deu origem a maioria das gramáticas pedagógicas que inda hoje são utilizadas. Além de sugerir dicotomias estanques com separação entre forma e conteúdo, separação entre língua e uso e toma a língua como sistema de regras, o que conduz o ensino de língua ao ensino de regras gramaticais.

  Por fim, como argumenta o autor, a perspectiva da dicotomia “tem o inconveniente de considerar a fala como o lugar do erro e do caos gramatical, tomando a escrita como o lugar da norma e do bom uso da língua. Seguramente trata-se de uma visão a ser rejeitada.” (MARCUSCHI, 2001, pág. 27).

  Referência Bibliográfica

 MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. 133 p. ISBN 8524907711

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